'Novos autores estão despontando e narrando o Brasil em sua diversidade e complexidade', diz Itamar Vieira Junior

  • 04/05/2025
(Foto: Reprodução)
Em sua passagem pelo Flipoços, autor de Torto Arado e Salvar o Fogo diz que a literatura brasileira vive momento especial. Itamar Vieira Junior participou do Flipoços 2025 Igor Avelar/Flipoços Autor de Torto Arado, livro premiado e com mais de 1 milhão de cópias vendidas, Itamar Vieira Junior fez sua primeira participação no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas - Flipoços, neste sábado (3), penúltimo dia do evento. 📲 Participe do canal do g1 Sul de Minas no WhatsApp Antes da sua apresentação, o escritor conversou com o g1 Sul de Minas e falou sobre a suas obras, sobre o bom momento da literatura nacional e sobre a importância da leitura. Veja abaixo os destaques da entrevista: O bom momento da literatura brasileira Itamar faz parte de uma nova geração de escritores que têm recuperado o interesse dos leitores e alavancado a literatura nacional. Ele credita isso à diversidade e qualidade das obras que estão sendo lançadas. “A gente tem vivido um bom momento na literatura brasileira porque os leitores têm abraçado essa literatura e tem descoberto ela no seu valor, na sua qualidade. Jeferson Tenório até que fala isso. A gente tem vivido um movimento, uma espécie de primavera na literatura brasileira, com novos autores despontando e narrando o Brasil em sua diversidade e complexidade. O Brasil é um um país do tamanho de um continente. É um país com muitas origens. E acho que durante um tempo a literatura brasileira contemporânea se fixou muito na cidade, nos grandes centros e não conseguia dar conta dessa diversidade que é o país. E agora a gente tem um movimento de autores de diversas regiões que chegam e escrevem, narram esse Brasil. E não é uma primavera só pela diversidade do que está sendo escrito e pela qualidade do que está sendo escrito, mas porque isso tem despertado o interesse dos leitores como há muito tempo não despertava. Então é um momento muito especial, muito novo.” Trajetória Itamar Vieira Junior participou do Flipoços 2025 Fabiana Assis/g1 Itamar nasceu e cresceu em Salvador (BA). Ele conta que foi alfabetizado por Marlene, uma vizinha filha do verdureiro, e desde muito pequeno se interessou pelos livros. Mas seu interesse pela literatura não era bem visto pelos pais, que se preocupavam com o futuro do filho e por isso ele deixou o sonho de ser escritor de lado por um bom tempo. “Quando eu descobri aquela magia da leitura, de ler um livro e adentrar novos mundos, descobrir novos universos, eu quis fazer aquilo e eu já fazia muito cedo. Quando eu tinha por volta de 9 anos, minha mãe achou as coisas que eu escrevia e ela ficou um pouco preocupada, ela dizia que eu estava perdendo tempo. Éramos de uma família de trabalhadores, pessoas que ganhavam a vida com muita dificuldade e era como se eu dissesse que seria ator, seria cantor. Acho que todo pai fica apavorado até hoje, vai dizer ‘Meu Deus, eu vou ter que sustentar meu filho.’. Naquele momento a literatura virou um segredo para mim. Eu continuei escrevendo e lendo, mas, por não existirem pessoas à nossa volta que escreviam, que viviam disso, não tinha referência e eu lia autores que tinham morrido, achava que para ser autor, na minha cabeça de criança, precisava ter morrido. Então não era uma profissão. Aí eu segui outro caminho, fui fazer geografia. Mas a literatura sempre esteve no meu horizonte, era um hobby, algo de afeto, que nas horas vagas eu fazia, ler e escrever.” A literatura começou a acontecer na vida de Itamar aos 32 anos. Já formado, com mestrado e empregado no serviço público, ele participou de um concurso literário que resultou no seu primeiro livro publicado: “Dias”. Por meio de outro concurso, dessa vez em Portugal, Torto Arado também foi publicado. Mesmo assim, Itamar teve dúvidas sobre sua carreira de escritor. “Eu continuei trabalhando, veio a pandemia, não tinha o que fazer, o livro não tinha acontecido. Aí depois o livro foi acontecendo, começaram a sair as traduções no exterior, muito convite, eu não consegui aceitar tudo, aí teve um momento que eu disse: ‘Agora eu vou ter que pedir licença e experimentar, viver disso por um tempo’”. Até hoje o escritor mantém seu vínculo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), como funcionário licenciado sem remuneração. “Porque eu ainda tenho minhas dúvidas, tenho meu pé no chão”. Torto Arado Torto Arado - Itamar Vieira Junior Reprodução Lançado em 2019, o romance Torto Arado se tornou um fenômeno na literatura nacional contemporânea. A história das irmãs Bibiana e Belonísia que vivem em condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina vendeu 1 milhão de cópias e apresentou Itamar Vieira Junior para o mundo. A continuação da saga “Salvar o Fogo”, lançado em 2023, vendeu 80 mil cópias no primeiro ano. Agora, Itamar Vieira Junior prepara a última história da trilogia. Mas chegar a esse sucesso não foi fácil. A obra foi reconhecida - e publicada - primeiro em Portugal. Eu mandei “Torto Arado” para um concurso, o prêmio literário LeYa. A gente concorre anônimo, manda com pseudônimo. São muitos candidatos, eles recebem mais de mil originais. Eu confesso que fiz um envio protocolar. Eu mandei porque eu não tinha uma editora no Brasil. Eu cheguei a falar com os editores pequenos dos meus livros anteriores, mas não tinha espaço, não tinha interesse naquele momento. E eu mandei para lá e, bom, aí o livro ganhou um prêmio em Portugal, foi publicado em Portugal e seis meses depois foi publicado no Brasil. Logo após a publicação no Brasil veio a pandemia, o que Itamar acha que ajudou na repercussão do livro. “O livro timidamente foi chegando aos aos leitores. Veio a pandemia. Eu fiquei muito disponível para quem lia o livro. Na pandemia teve uma profusão de formação de clubes de leitores on-line. As pessoas estavam ali, ociosas, queriam se encontrar e se encontravam on-line e me chamavam e eu participava com uma frequência muito grande. Eu acho que isso foi criando um boca-a-boca. Mesmo sem viajar, sem feira literária, sem circular, os leitores foram se identificando e foram lendo e divulgando a história. Quando chegou no fim de 2020, vieram os prêmios Jabuti e Oceanos. Aí depois que ganhou os dois prêmios, o interesse explodiu, porque os veículos de comunicação foram me entrevistar. Quem é esse?” Torto Arado já foi traduzido para mais de 30 idiomas e participou de prêmios no mundo todo, mas o escritor teve suas dúvidas sobre se a história despertaria interesse dos leitores. “Eu imaginava enquanto eu escrevia Torto Arado, se essa história que é tão simples, de uma família que vive numa fazenda ainda com resquícios da escravidão, poderia despertar de interesse em um leitor que é cada vez mais urbano, que vive nos grandes centros, mas ainda bem que eu estava equivocado. Eu tinha dúvidas sobre o interesse do leitor. Escrevi porque era o que eu queria escrever, não podia me trair nesse sentido. Mas tinha dúvida se haveria interesse na leitura. E o livro me mostrou justamente o contrário, porque os leitores abraçaram essa história. Mesmo não vivendo aquilo, mesmo não tendo experimentado aquilo, acho que querem conhecer mais do Brasil.” Responsabilidade em escrever Itamar Vieira Junior diz que sente a responsabilidade de escrever, mas que segue fiel a sua verdade Uendel Galter Com o sucesso de Torto Arado, Itamar Vieira Junior arrebanhou milhares de fãs pelo mundo todo. Ele diz que hoje tem desprendimento pela história que já pertence aos seus leitores, mas reconhece que a fama lhe trouxe mais responsabilidades. “ Eu acho que a gente com o tempo vai ficando mais rigoroso com a gente mesmo, vai ficando mais crítico com o que escreve. Eu converso com outros autores, por isso que eu estou falando isso. Cada vez eu fico mais exigente comigo mesmo. Isso demanda um retrabalho com o meu escrito. É muito provável que se eu escrevesse Torto Arado hoje, o livro não fosse como aparece. Porque a gente amadurece e a gente muda. A gente escreve uma história hoje com a cabeça de hoje, com as ferramentas que a gente tem hoje, mas daqui a cinco anos muita coisa pode ter mudado, a gente é atravessado, a vida é dinâmica". Itamar conta que, quando Torto Arado ganhou vários prêmios, ele sentiu a pressão das expectativas dos leitores. Ele chegou a ser acordado quando viajava em um avião por um leitor que perguntava quando sairia o próximo romance. "Sou exigente. Eu escrevo, reescrevo. Se você me perguntar qual dos livros foi mais fácil escrever, dos romances, eu vou dizer o primeiro. Porque como não tinha expectativa nenhuma minha, a coisa fluiu melhor. Depois, além da expectativa dos leitores que ficam perguntando sobre a história, sobre o livro, há a expectativa minha também de apresentar sempre o melhor. E aí é mais difícil, o próximo é sempre mais difícil de escrever do que o primeiro. Mas o escritor diz que tenta não se preocupar e escrever suas obras com a sua verdade. “Eu tento não me trair. Eu escrevo sobre aquilo que me pede para ser escrito. Eu não quero fazer concessões nesse sentido. Porque me trair seria muito perigoso. Imagina você escrever algo que não é capaz de envolver a você, em primeiro lugar. Se não envolver você, é muito provável que não envolva o leitor, então eu preciso ter esse envolvimento com a história. Eu preciso escrever sobre aquilo que tá gritando para ser escrito.” Veja mais notícias da região no g1 Sul de Minas

FONTE: https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2025/05/04/novos-autores-estao-despontando-e-narrando-o-brasil-em-sua-diversidade-e-complexidade-diz-itamar-vieira-junior.ghtml


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